MCTI e FINEP investem R$ 30 milhões para projeto de microrreator nuclear

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) assinaram, nesta terça-feira (17), em Brasília, o contrato-projeto para desenvolvimento e testes das tecnologias críticas aplicáveis aos Microrreatores Nucleares (MRN).
O evento contou com a presença da ministra Luciana Santos, do presidente da Finep, Elias Ramos, do Almirante de Esquadra, Alexandre Rabello, diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli Júnior e de Pedro Litsek, CEO da Diamante Geração de Energia.
O projeto representa um investimento total de R$ 50 milhões, sendo R$ 30 milhões em subvenção econômica e R$ 20 milhões de contrapartida das empresas participantes. O investimento é do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio da Finep, com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
A iniciativa é liderada pela Diamante Geração de Energia, junto com a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e a startup Terminus Pesquisa e Desenvolvimento em Energia, além de nove instituições científicas e tecnológicas, incluindo universidades federais. São elas: Universidade Federal do Ceará – UFC, Universidade Federal do ABC – UFABC, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Diretoria de Desenvolvimento Nuclear da Marinha – DDNM, Amazônia Azul Tecnologias de Defesa – AMAZUL, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN/CNEN, Instituto de Engenharia Nuclear – IEN/CNEN e o Instituto Nacional de Telecomunicações – INATEL.
Microrreatores nucleares
Os microrreatores nucleares, tecnologia que nasceu na indústria espacial, está agora a caminho de se tornar solução terrestre para geração de energia elétrica limpa, distribuída e segura.
“Estamos aqui para assinar o projeto de desenvolvimento e testes das tecnologias críticas para microrreatores nucleares, uma inovação radical não apenas para o nosso país, mas para o mundo”, afirmou a ministra Luciana Santos.
A ministra ainda destacou que, diante da emergência climática, a energia nuclear surge como uma aliada essencial na transição energética.
“Para um futuro energético mais limpo e seguro, especialmente com a chegada da nova geração de reatores”, reforçou.
O presidente da Finep, Elias Ramos, pontuou a importância estratégica do projeto, considerado um marco para a empresa pública de fomento à inovação.
“É uma grande satisfação participar da celebração deste projeto, que envolve uma das estruturas mais complexas já apoiadas pela Finep. Temos a Diamante Geração como proponente e duas coexecutoras importantes, como as Indústrias Nucleares do Brasil, o que demonstra a robustez da iniciativa”, disse.
Pedro Litsek, CEO da Diamante Geração de Energia acrescentou que a aposta na tecnologia nuclear é estratégica para o futuro da matriz energética brasileira.
“Essa iniciativa mostra como acreditamos que o futuro da geração de energia no mundo passa, necessariamente, pela energia nuclear. Não há outra fonte capaz de substituir os combustíveis fósseis com a mesma confiabilidade e eficiência”, destacou.
Com pequena pegada de carbono, alta segurança e portabilidade, os microrreatores prometem levar energia limpa a comunidades isoladas, a indústrias, minas, unidades de dessalinização de água, produção de hidrogénio verde e até à infraestrutura de carregamento de veículos elétricos.
“Uma combinação desses microrreatores tem o potencial de abastecer municípios brasileiros com menos de 20 mil habitantes, sem depender de extensas linhas de transmissão”, enfatizou a ministra Luciana Santos.
Atualmente, 68% dos municípios brasileiros possuem essa característica, representando cerca de 30 milhões de habitantes.
O projeto prevê a construção de uma Unidade Crítica (UCri), um pequeno reator de cerca de 100 W, que permitirá validar os parâmetros físicos e operacionais, realizar testes de segurança e simular diferentes cenários operacionais, incluindo falhas. Simultaneamente, serão desenvolvidas bancadas experimentais termohidráulicas e termomecânicas, além da fabricação de novos materiais, como ligas contendo urânio, berílio e nióbio, com técnicas de manufatura aditiva, consolidando a capacitação nacional.
Para Francisco Rondinelli Júnior, presidente da CNEN, o projeto do microrreator representa uma conquista significativa para o setor nuclear brasileiro, com potencial de gerar impactos concretos em diversas áreas estratégicas.
“Esse projeto agrega múltiplas dimensões importantes: impulsiona o desenvolvimento da cidade de Santa Maria (RS), envolve a academia em pesquisas avançadas, movimenta a indústria nacional e atende a um interesse comercial legítimo — entregar um microrreator compacto, que funcione por até dez anos, com posterior substituição do módulo. É uma concepção brasileira, inovadora e promissora”, ressaltou Rondinelli.
O Almirante de Esquadra, Alexandre Rabello, falou do o compromisso histórico da Força Naval com o avanço da tecnologia nuclear no país, destacando seu papel estratégico para a soberania nacional.
“É uma honra para a Marinha do Brasil participar da celebração deste projeto, que representa um passo decisivo para o desenvolvimento nacional na área nuclear — um dos pilares fundamentais da soberania, da segurança energética e do progresso científico e tecnológico do país”, disse.
A expectativa é que, no Brasil, os primeiros microrreatores com potência de 5 MW, encapsulados em containers de 40 pés, possam entrar em operação comercial entre oito e dez anos.
“Estamos escrevendo um novo capítulo da história nuclear do Brasil, usando a ciência a serviço de um desenvolvimento sustentável e inclusivo”, concluiu a ministra do MCTI, Luciana Santos.