Cafezais das Matas de Rondônia sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emitem, aponta estudo

Café sustentável na Amazônia: balanço positivo de carbono
Uma pesquisa inédita realizada nas Matas de Rondônia revela que a cafeicultura familiar praticada na região Amazônica sequestra em média 2,3 vezes mais carbono do que emite. A variedade local, conhecida como Café Robusta Amazônico (Coffea canephora), apresenta um balanço anual favorável, com um saldo líquido de aproximadamente 3.883 kg de carbono por hectare ao ano — o equivalente a cerca de 4 toneladas.
Sequestro e emissões detalhados
O estudo mostra que a biomassa dos cafezais estoca cerca de 6.875 kg de carbono por hectare, enquanto as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na produção chegam a 2.992 kg por hectare. Esse resultado pioneiro poderá servir como referência para futuras pesquisas e para a criação de linhas de crédito de carbono voltadas aos produtores locais.
Ferramenta para produtores: planilha de cálculo de emissões
Além do levantamento científico, os pesquisadores desenvolveram uma planilha para que os agricultores possam calcular as emissões de seus sistemas produtivos, considerando práticas como irrigação e uso de fertilizantes. A ferramenta está sendo apresentada no Rondônia Rural Show Internacional (26 a 31 de maio, em Ji-Paraná), o maior evento do agronegócio na Região Norte, promovendo o diálogo entre ciência e setor produtivo.
Reação dos produtores e do setor financeiro
Juan Travian, presidente da Associação dos Cafeicultores da Região das Matas de Rondônia (Caferon), destacou a importância do estudo para evidenciar a sustentabilidade da produção de café na Amazônia: “É fundamental mostrar ao mundo, por meio da ciência, que nossa cafeicultura é sustentável.”
O presidente do Conselho de Administração do Sicoob Credip, Oberdan Pandolfi Ermita, enfatizou o potencial da monetização do carbono para beneficiar os produtores, seja por incentivos financeiros diretos ou por redução de taxas de juros, reforçando a relevância dos dados específicos para o Café Robusta Amazônico.
Presença na COP30 e integração com iniciativas climáticas
O projeto do Café Robusta Amazônico foi selecionado para exposição na COP30, que ocorrerá em novembro, na Embrapa Amazônia Oriental, em Belém. A ação integra a Jornada pelo Clima da Embrapa e o programa Integra Carbono, que reúne dados e tecnologias para descarbonizar a agricultura e sistemas florestais brasileiros.
Café como ferramenta de remoção de carbono
Segundo o pesquisador Carlos Cesar Ronquim, da Embrapa Territorial, o cafeeiro, por ser uma planta lenhosa, armazena grandes quantidades de carbono por longos períodos. Contudo, o carbono retorna à atmosfera quando as plantações são renovadas. Ele destaca que o uso do café como substituto de combustíveis fósseis pode contribuir para um balanço de carbono ainda mais positivo.
Metodologia e dados coletados
O estudo avaliou 150 cafeeiros adultos em 10 propriedades de cinco municípios da região, analisando a distribuição do carbono nas plantas: tronco (36,4%), raízes (24,3%), folhas (23,8%), galhos (10,1%) e frutos (5,4%). A coleta dos dados sobre emissões envolveu 250 propriedades em 15 municípios, com apoio da Emater-RO, através de questionários e entrevistas.
Práticas agrícolas que reduzem emissões
O pesquisador Enrique Alves, da Embrapa Rondônia, ressalta que muitos produtores substituem parte dos fertilizantes químicos por orgânicos, como cama de frango e palha de café, o que melhora o desenvolvimento vegetal, aumenta o carbono no solo e reduz a emissão de GEE. As plantas robustas e de porte maior, associadas a práticas agronômicas adequadas e arranjos espaciais adensados, fazem do cultivo uma ferramenta importante para proteção do solo e sequestro de carbono.
Carbono no solo e próximos passos
O cálculo atual não inclui o carbono estocado no solo, que poderá aumentar ainda mais o balanço positivo. O projeto está em andamento para comparar áreas de café, pastagens e florestas nativas, com a expectativa de que o manejo adequado do Café Robusta Amazônico em áreas degradadas eleve o sequestro líquido de carbono.
Emissões e pegada de carbono da cafeicultura local
A pegada de carbono média do café das Matas de Rondônia é de 0,84 kg de CO₂ equivalente por quilo de café verde produzido. Esse índice é favorável em comparação a cultivos tradicionais a pleno sol em outras regiões do mundo. Cerca de 80% das emissões são derivadas do uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos, cuja dosagem pode ser reduzida com práticas como adubação orgânica e cultivo consorciado com leguminosas.
Sustentabilidade e modernização da cafeicultura
A cafeicultura local avança para práticas regenerativas que incluem manejo da cobertura do solo, sistemas agroflorestais (SAFs), uso ampliado de adubação orgânica e aplicação racional da adubação química via fertirrigação. Além disso, a Embrapa apoia os produtores na seleção de materiais genéticos mais produtivos e resistentes às mudanças climáticas.
Agricultura familiar e perfil produtivo
Rondônia se destaca na produção de café no bioma Amazônia, responsável por 87% da safra local em 2024, sendo o segundo maior produtor de Coffea canephora no país. Cerca de 17 mil produtores familiares cultivam o robusta amazônico em pequenas propriedades, com média de 3,5 hectares, focados na sustentabilidade e manejo eficiente.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio