Discurso da ministra Marina Silva na abertura da 11ª Reunião de Ministros de Meio Ambiente do BRICS

Excelentíssimas ministras e ministros, vice-ministros, embaixadores, chefes de delegação e representantes dos países do BRICS,

Excelentíssimo Embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado para a COP30,

Estimadas senhoras e senhores,

Bom dia a todas e a todos.

É uma grande honra recebê-los em Brasília para a abertura da 11ª Reunião de Ministros do Meio Ambiente do BRICS. Em 2025, o Brasil tem a honra de presidir dois processos internacionais centrais.

Além do BRICS, que nos reúne hoje, sediará a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), a realizar-se em novembro, na Amazônia.

A COP30 de Belém celebrará os dez anos do Acordo de Paris e encerrará uma sequência de quatro Conferências realizadas no Sul Global – três delas em países do BRICS.

Assumimos essa dupla missão em um momento particularmente desafiador, marcado por tensões geopolíticas que colocam à prova os alicerces da ordem multilateral, já fragilizada e desigual.

O avanço do unilateralismo e de discursos extremistas compromete a estabilidade global e aprofunda injustiças, afetando, sobretudo, as populações mais vulneráveis.

Essa instabilidade se agrava ainda mais no contexto de emergência climática em que estamos vivendo. Batemos recordes sucessivos de temperatura.

O ano passado foi o mais quente da história, superando pela primeira vez o limite crítico de 1,5°C.

Nesse contexto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reiterado o papel estratégico do BRICS como espaço de diálogo e construção coletiva de soluções. Nossa capacidade de cooperação e diplomacia são mais necessários do que nunca.

Sob o lema “Avançando na Cooperação Ambiental entre os BRICS rumo ao Desenvolvimento Sustentável e a uma Transição Justa para Todos”, o Brasil reafirma seu compromisso com o multilateralismo e a cooperação entre países do Sul Global.

Esse compromisso ganha relevância diante da ampliação do BRICS. Esta é a primeira reunião com os novos membros: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

Ao lado de Rússia, Índia, China e África do Sul, devemos intensificar nossa colaboração frente à mudança do clima, perda da biodiversidade, desertificação e poluição, criando properidade para combatermos, com mais eficiência, a pobreza e as desigualdades.

Nas próximas décadas, a força de nossas economias nos tornará ainda mais influentes. Hoje, representamos cerca de metade da população mundial e 39% do PIB global.

Mais do que números, os BRICS são espaços:

  • cada vez mais férteis de inovação;

  • ricos em diversidade cultural;

  • com recursos estratégicos, em imensa quantidade e qualidade de capital natural.

Nossos países são prestadores de serviços ecossistêmicos imprescindíveis ao equilíbrio do planeta, e suportes essenciais para soluções baseadas na natureza, em sintonia com a capacidade de assimilação da terra.

Temos condições de liderar uma transição ecológica justa, que fortaleça um mundo multipolar, mais cooperativo e menos desigual.

É, portanto, fundamental canalizar esse potencial coletivo para um novo ciclo de prosperidade — mais sustentável, inclusivo e resiliente, tanto para as pessoas quanto para o planeta.

Atenta a essa responsabilidade, a Presidência Brasileira propôs ao Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente do BRICS o debate acerca de quatro eixos prioritários:

  1. Desertificação, degradação da terra e seca;

  2. Preservação e valoração dos serviços ecossistêmicos;

  3. Poluição plástica e gestão de resíduos;

  4. Liderança coletiva para a ação climática, com sinergias com a Agenda 2030.

Os diálogos e resultados desta reunião fortalecerão nossa cooperação e fomentarão ações concretas.

Ao final dos trabalhos, esperamos aprovar:

  • a Declaração Ministerial, fruto de meses de negociação entre nossas equipes técnicas; e

  • um Plano de Trabalho Anual, que impulsiona a implementação do Memorando de Entendimento sobre Cooperação Ambiental, entre 2024 e 2027.

Esse plano prevê cerca de 50 atividades práticas em áreas como:

  • Qualidade do ar

  • Educação ambiental

  • Biodiversidade

  • Gestão de resíduos e químicos

  • Recursos hídricos

  • Zonas costeiras e marinhas

  • Mudança do clima

Senhoras e Senhores,

O BRICS tem plenas condições de ajudar a realizar um grande mutirão para uma mobilização global rumo a resultados ambiciosos na COP-30, que precisa ser a COP da implementação dos acordos que firmamos até aqui.

Como país anfitrião da COP30, ressalto mais uma vez o momento crítico que estamos vivendo frente à crise climática.

O Brasil e muitos outros países têm enfrentado, com crescente intensidade e frequência, eventos climáticos extremos como enchentes, secas, incêndios e ondas de calor.

Os impactos sobre nossas populações, especialmente as mais vulneráveis, ecossistemas naturais e economias, exigem medidas concretas e urgentes para aumentar o atual ritmo de redução de emissão dos gases de efeito estufa.

Para isso, temos que levar muito a sério os acordos que firmamos na COP28, em Dubai, com base no Balanço Global do Acordo de Paris:

  • triplicar a produção de energia renovável;

  • duplicar a eficiência energética; e

  • iniciarmos a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis e do desmatamento.

Esse esforço urgente deve ser liderado pelos países desenvolvidos produtores e consumidores de energia, seguido pelos países em desenvolvimento.

No caso dos combustíveis fósseis, fonte de cerca de 75% das emissões globais de gases de efeito estufa, é inadiável desenvolvermos um plano internacional que nos leve, de maneira justa e ordenada, para o fim da dependência que o mundo ainda tem dessa fonte de geração de energia.

Um plano que considere as diferenças entre os países, suas necessidades e dificuldades; e que seja justo para todos.

A pior consequência de não mudarmos de forma planejada a realidade que nos ameaça é de sermos abruptamente mudados por ela.

Finalmente, destaco a importância fundamental de termos NDCs alinhadas com o limite de aumento da temperatura média da Terra em 1,5 graus centígrados. Esse é um passo fundamental para assegurarmos a implementação dos compromissos que assumimos até aqui, na Convenção sobre Mudança do Clima. O Brasil fez sua lição de casa e apresentou em Baku a meta de diminuir até 2035 entre 59% e 67% as emissões de gases de efeito estufa, em comparação com o ano de 2005.

Por isso, é fundamental avançarmos, ao mesmo tempo, em ações concretas que ampliem o financiamento climático  — dos US$ 300 bilhões prometidos para, no mínimo, US$ 1,3 trilhão anuais.

Nesse sentido, é essencial fortalecer mecanismos inovadores de financiamento. Um exemplo é o Mecanismo Florestas Tropicais para Sempre – TFFF, que busca garantir recursos contínuos para a proteção da natureza e valorização dos serviços ecossistêmicos das florestas tropicais.

A adaptação precisa ganhar centralidade, garantindo acesso a recursos e tecnologias que permitam enfrentar os impactos, já sentidos e crescentes, da crise climática.

Por isso, reitero: vamos planejar a mudança, evitando ao máximo seus efeitos indesejáveis, antes de sermos mudados, de forma trágica e implacável, por ela.

Agradeço a presença de todas e todos, e desejo uma jornada de trabalho produtiva e inspiradora.

Muito obrigada.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima