Ufra leva saneamento ecológico para aldeia no Pará

A Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), está implementando um projeto de saneamento ecológico na aldeia indígena Herekohaw, no município de Santa Luzia (PA). A iniciativa prevê a instalação de seis sistemas de captação de água da chuva, que funcionam sem necessidade de energia elétrica, pois utilizam a força da gravidade. Também serão implantadas cinco fossas ecológicas, garantindo acesso sustentável à água potável e ao tratamento de esgoto para dezenas de indígenas da etnia Tembé.
O projeto conta com financiamento do Governo Federal e deve ser concluído até a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada este ano em Belém.
Água potável – Durante o período seco, os indígenas da aldeia Herekohaw dependem de um pequeno rio para consumo, enfrentando riscos de insegurança hídrica devido à redução do volume de água. Para mudar essa realidade, pesquisadores da Ufra estão instalando sistemas de captação de água da chuva, cada um com capacidade para armazenar 5,5 mil litros, totalizando 33 mil litros de água potável para a comunidade.
O novo sistema inclui cloradores automáticos, eliminando a necessidade da adição manual de hipoclorito. “Antes, os moradores precisavam adicionar hipoclorito para garantir a potabilidade da água. Agora, a água será tratada automaticamente e filtrada com carvão ativado antes do consumo”, explica Vania Neu, professora e coordenadora da iniciativa.
Saneamento – As estruturas — sistemas de captação de água da chuva e fossas ecológicas — garantem o tratamento de esgoto sem poluir o solo e os lençóis freáticos. O sistema de tanques de evapotranspiração (Tevap), também chamado de fossas ecológicas ou bananeiras, utiliza camadas filtrantes para decompor os resíduos e, na superfície, o plantio de bananeiras e outras espécies absorve e evapora a água tratada.
“As fossas convencionais não funcionam bem na região devido à má drenagem do solo, causando alagamentos. A Tevap é uma solução sustentável, construída em parceria com os próprios indígenas, respeitando suas realidades e promovendo autonomia”, destaca Thaisa Comassetto, docente que também integra o projeto.
Escola modelo – Além da aldeia, a Escola Estadual Indígena Itapuyr, que atende crianças e adolescentes de quatro aldeias Tembé, também receberá um sistema de captação de água da chuva. A ideia é transformar o colégio em um modelo replicável, promovendo ações educativas, desenvolvimento de uma cartilha bilíngue e participação ativa da comunidade na implementação da tecnologia.
“O acesso à água é um desafio para diversas aldeias indígenas. Nosso objetivo é não apenas fornecer infraestrutura, mas também compartilhar conhecimento, permitindo que os próprios indígenas repliquem a tecnologia e garantam segurança hídrica para suas comunidades”, ressalta Vania Neu.
Expansão – A experiência adquirida no Pará também será aplicada em territórios Yanomami no estado do Amazonas, por meio de uma parceria entre a Ufra e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde. O projeto busca soluções viáveis para o fornecimento de água potável em comunidades isoladas, em que a perfuração de poços artesianos pode ser inviável devido à complexidade logística e ao alto custo.
“As tecnologias sociais que desenvolvemos são de baixo custo e adaptadas à realidade local. A captação de água da chuva é uma alternativa eficiente para garantir o abastecimento sustentável nessas regiões”, explica Neu.
Transformação social – Além das estruturas físicas, a Ufra produzirá cartilhas bilíngues para os povos Tembé e Yanomami, detalhando a instalação e a manutenção dos sistemas. Segundo as pesquisadoras, o envolvimento das comunidades é essencial para o sucesso do projeto, garantindo que a tecnologia seja compreendida, mantida e replicada de forma autônoma. “Nosso objetivo vai além da infraestrutura. Queremos promover uma abordagem inclusiva, que respeite a cultura indígena e contribua para a transformação social dessas comunidades”, conclui a coordenadora.
Fonte: Ministério da Educação